28.2.07

.filmes.

Perfume - A História de um Assassino, 2006
Tom Tykwer

Confesso que eu jamais tinha ouvido falar deste livro de Patrick Süskind, mas após ler alguns reviews percebi que ele é bem famoso, principalmente na Alemanha, terra natal do escritor. Fiquei sabendo também que vários diretores já quiseram adapta-lo para o cinema, dentre eles Martin Scorsese e Ridley Scott. Stanley Kubrick havia dito que esse livro era impossível de ser filmado. É, até mesmo os gênios erram.

A complicada tarefa coube a Tom Tykwer, diretor do cultuado Corra, Lola, Corra e ele conseguiu realizar um excelente trabalho, na medida do possível. Não é qualquer um que tem a capacidade de explorar de uma forma tão eficaz o sentido do olfato no cinema. Sim, o olfato é a coisa mais importante dessa obra e era essencial que fosse trabalhado de uma forma que os espectadores pudessem lembrar de certos cheiros e realmente sentissem o que se passa na tela.

No ínicio já temos uma amostra do que Tom Tykwer pode fazer, quando nos apresenta ao mercado de peixe de Paris, um lugar não muito agrádavel. Um lugar podre de sujo, peixes estragados, lesmas, pessoas vomitando, ratos, tudo é retradado com closes fechados, de uma forma que conseguimos ficar enojados com essa visão. Aliás, é bem nesse local que nasce - ou é cuspido pra fora do corpo de sua mãe - Jean Baptiste o anti-herói de Perfume.

Jean Baptiste nasce com algo raro. Ele não possui cheiro algum e dessa forma jamais se torna atratativo pra qualquer pessoa, ficando sempre isolado, sem se relacionar com ninguém. Mas, o fato dele não ter um odor próprio faz com que ele tenha uma enorme capacidade de sentir e distinguir os mais variados cheiros. Ele é capaz de saber que está se aproximando e também de sentir o cheiro de vidro e de metal. Com o tempo Jean Baptiste entra no ramo da Perfumaria e ele parte em busca do seu "santo graal": Fazer uma fragância perfeita. Mas para faze-la ele precisa capturar a fragrância de 13 mulheres, só que ele precisa mata-las, o que faz dele um incompreendido serial killer.

A impressão que temos é que o diretor tenta romantizar o assassino, o que pode fazer com que muitos odeiem o filme. Aliás, é bem díficil nos sentirmos próximos de Jean Baptiste, pois o personagem não faz praticamente nada para conquistar a nossa simpatia. Creio que o filme poderia ser uns 20 minutos mais curto.

Apesar da história e o do desenvolvimento dela não serem dos melhores, a maneira como os contrastes de cheiros é usada merece ser lembrada por muito tempo.


Nota: 81

23.2.07

.livros.

Uma dica

Li na semana passada Uma Breve História do Mundo(R$ 29,50), do historiador e professor em Harvard, Geoffrey Blainey. O livro é muito interessante, pois com uma linguagem didaticamente simples e atraente o autor faz basicamente um resumo cronológico dos acontecimentos mais importantes no desenvolvimento da humanidade. Claro, tudo é muito resumido, mas é o bastante para entreter e para aumentar nosso conhecimento a respeito do mundo e das civilizações que nele residem ou residiram.

Minha parte preferida é o começo, onde Blainey descreve o ínicio de tudo, quando o mundo tinha apenas um continente e um oceano. Apartir da segunda parte o livro ficou um tanto chato pra mim em alguns momentos, mas nada que me fizesse parar de ler. Vamos dizer que eu recomendo, mas com algumas ressalvas... ;)

-> A próposito, eu sei que quase ninguém lê isso, mas na verdade eu escrevo pra mim mesmo, pq curto escrever e quem sabe daqui um tempo eu possa dar umas risadas das besteiradas que coloco aqui.

17.2.07

.filmes.

Casino Royale, 2006
Martin Campbell

A franquia James Bond estava agonizante. Aquelas histórias repetidas, pouco originais, já não agradavam mais ninguém. As invencionices que Bond utilizava, que mais pareciam ser artefatos criados pelo Professor Pardal já tinham enchido o saco. Apesar de Pierce Brosman ter sido um Bond decente, o tempo dele claramente já havia passado. A série precisava se reiventar e foi exatamente o que aconteceu em Casino Royale.

Começando com uma cena de perseguição vertiginosa, com espaço até pra uma bela demonstração do Le Parkour (aquele esporte que a galera fica pulando de um lado pra outro), já ficamos cientes que agora Bond precisa mais de músculo e cerébro do que de armas especiais. Por isso era necessária a contratação de um ator que possuise essas características e Daniel Craig tem isso e muito mais. Sua performance como o agente 007 é brilhante, sendo capaz de passar toda a força, inteligencia e o charme que o personagem tem.

Assumindo um ar de Identidade Bourne, o filme conta com boas cenas de ação, apesar de ás vezes serem um tanto longas demais, o que faz com que percam a graça. Mas é interessante notar que a verossimelhança está presente na maioria dos acontecimentos.

Casino Royale mostra o ínicio da carreira de James Bond como o agente 007. Sua primeira missão não é nada fácil, pois alem brigar e matar ele deve vencer um perigoso jogo de Pôker. Alias, pra mim o tal jogo de Poker é a melhor parte do filme, junto com o começo. Bem que o filme podia ser mais curto.

Com certeza mais filmes do agente engravatado serão feitos, um dos principais responsáveis por isso é sem dúvida o ator Daniel Craig que chegou pra ficar.

Nota: 74

14.2.07

.filmes.

Jesus Camp, 2006
H. Ewing e R. Grady


Provavelmente, Jesus Camp é o único filme que tem alguma chance de tirar o prêmio de melhor documentário no Oscar de Uma Verdade Inconveniente. Eu não acredito que consiga, pois além do filme de Al Gore ser um pouco melhor, a propaganda em cima dele é muito grande. Mas de qualquer forma, estamos diante de algo que merece ser visto. Não por suas qualidades técnicas, que são bem precárias, quer dizer, não há nenhuma tomada brilhante, nenhum milagre de edição e sua fotografia parece ter sido feita para televisão. Ele merece ser visto justamente pelo assunto que aborda: As crianças evangélicas dos Estados Unidos.

Não há nenhum tipo de julgamento dos diretores, eles não querem ficar a favor ou contra ninguém nessa história toda, algo que poderia nos influenciar de alguma forma. Eles apenas usam uma camera para registrar e nos mostrar o que se passa nesses lugares onde se reunem várias crianças e alguns adultos que transmitem a chamada fé cristã.

De um lado temos o locutor de rádio Mike Papantonio, crítico severo da lavagem cerebral feita nas crianças e do outro Becky Fischer, uma das responsáveis por aumentar o exército de Deus.

Em alguns momentos eu pensava estar assistindo a um filme de terror: Crianças chorando, erguendo os braços, gritando o nome de Jesus, pulando, caindo no chão -numa simulação de um ataque epilético, basicamente- e pessoas falando uma lingua bizarra. Em outros momentos eu tinha pena. Uma pena incrível dessas crianças que desde cedo são treinadas para nao ter conteudo algum, pra nao desejar nada a não ser JESUS. Crianças que são jogadas nesse mundo patético, de gritaria, de sermões prolixos, onde tudo é do diabo, é do demo. Pros evangélicos americanos Harry Potter é um ínimigo de Deus, Darwin e a Evolução são besteiras e George Bush deve ser praticamente cultuado, como se fosse um santo, algo que os evangélicos são contra.

No fim tudo parece ser uma maneira de criar, a qualquer custo, um nincho eleitoral para seguir o interesse daqueles que lucram com tudo isso, como a Betty Fischer. Em 2004 as eleições nos EUA foram decididas a favor de Bush justamente por ele fazer parte desse grupo.

O preço, quem paga, são as crianças.

13.2.07

.filmes.

À Procura da Felicidade, 2006
Gabriele Muccino

Hoje em dia é muito difícil alguém criar algo original de verdade, então o que se pode fazer para se conseguir algum destaque é pegar um tema já usado e colocar uma visão diferente, usando elementos novos, que fujam um pouco do marasmo. Basicamente é isso o que acontece em À Procura da Felicidade. O tema não é nada novo: Aquela velha história do homem que se fode o tempo inteiro, em busca da sua redenção, ou como diz o título, da felicidade. Só que nesse caso existem mais atrativos. Um deles é o fato de ser baseado numa história real, o personagem principal existe realmente e isso é um motivo que nos leva a nos identificar e nos importar mais ainda com ele. Outra coisa é a atuação de Will Smith, que logo comentarei.

Chris Gardner entrou numa roubada de ser revendedor de um aparelho caro e não muito eficiente. Sua vida e a vida de sua família dependem de suas vendas, que nunca atingem um número suficiente. Desesperada com a situação, sua mulher resolve partir e aí ele tem que cuidar de seu filho sozinho. É quando por acaso ele tenta entrar de estagiário em uma empresa, como corretor de seguros.

O forte do filme é a relação de pai e filho, e todo o sacrifício que Chris tem que fazer todos os dias para conseguir que ele e seu filho tenham um teto sobre suas cabeças na hora de dormir.

Will Smith tem uma interpretação digna de um Oscar. Nos momentos principais do filme ele consegue passar emoções muito fortes, sem soar nem por um segundo algo forçado. Não sabia que ele tinha todo esse talento.

É interessante também os contrastes que são mostrado de formas bem sutis, como quando um carro de rico passa em alta velocidade por um breve momento na frente de uma fila de pessoas que disputam um lugar num albergue, ou também em uma foto de um Magic Johnson extremamente sorridente que fica dentro do quarto do filho de Chris, justamente um lugar que constantemente é palco de discussões e tristezas.

Mas é claro, no fim fica a mensagem (um tanto clichê) de que TUDO É POSSÍVEL, basta querer. Infelizmente pra maioria não é assim, mas se foi pra Chris Gardner, pode ser pra muita gente.

Nota: 80

3.2.07

.filmes.

Maria Antonieta, 2006
Sofia Coppola

Geralmente, quando resolve-se fazer um filme cujo roteiro é baseado em um acontecimento histórico o diretor tenta de todas as formas torna-lo algo grandioso -um épico, com milhares de figurantes, com diálogos que tentam dizer mais do que realmente dizem- mas na maioria das vezes ele erra a mão. Sofia Coppola procurou contar a história de Maria Antonieta de uma maneira mais pessoal, mais humana mesmo, mais atual.

O filme nada mais é que cenas que mostram a vida de Maria Antonieta, a famosa esposa do rei Luis XVI da França. Cachorros, festas, doces, tentar engravidar... Somos apresentados ao seu cotidiano e isso as vezes é um pouco chato, mas ás vezes é extremamente agradável. O jeito que o filme segue é parecido com Encontros e Desencontros, que não tem uma história com começo, meio e fim, algo comum na maioria dos filmes. Pra uns isso é bom, pra outros é uma merda. Sou da primeira opção, as vezes é bom variar.

O tempo vai passando e vamos nos perguntando... ué... e a Revolução, cade? Pois é... aos poucos e sutilmente ela vai tomando forma, e temos que estar atentos para perceber os pontos chaves, como quando o Luis XVI acata a idéia de enviar tropas para ajudar os EUA em sua luta de indepêndencia contra a Inglaterra, etc.

Creio que esse filme é daquele tipo que é mais do que aparenta. Injustiçado nas bilheterias, nas críticas, porém um tanto recompensado com uma indicação ao oscar, merecida, de melhor figurino. Sofia Coppola inegavelmente regrediu, o que era esperado, pois Encontros e Desencontros é uma obra-prima. Mas de qq forma, fica a certeza de que ela pode ainda oferecer muita coisa boa pro cinema.

Nota: 79