28.4.07

Dobradinha!

Deja Vu, 2006
Tony Scott

A carreira do cineasta Tony Scott é marcada por mais erros do que acertos. A maioria de seus filmes são totalmente dispensáveis, daqueles tipos que não temos vontade de assistir mais do que uma vez. Geralmente os roteiros que ele utiliza não são dos melhores, cheios de furos, reviravoltas forçadas e finais que conseguimos desvendar facilmente. Apesar desses seus defeitos, Tony Scott é um diretor que frequentemente sabe o que faz. Sua técnica é muito boa, filmando sempre com segurança e muita sobriedade, sem exagerar em exercícios de estilo(vamos esquecer de Domino e Chamas da Vingança), o que colabora para que seus filmes sempre tenham um ritmo bom, jamais entediando o público. Basicamente, isso tudo resume uma parte do seu mais novo trabalho, Deja Vu.

O filme começa tragicamente impactante. A cidade de New Orleans, que ainda lutava para superar a passagem do furacão Katrina, agora é alvo de um atentado terrorista numa balsa, que acaba gerando 543 mortes. Apartir dai se inicia uma investigação para descobrir o culpado. Mas o que parece ser um filme policial comum, acaba se transformando num science-fiction-wannabe, com a introdução na investigação de um "aparelho" capaz de captar imagens perfeitamente nítidas em todos os ângulos possíveis dentro da cidade, só que as imagens vêm com um atraso de 4 dias. Ok, com muita tecnologia isso seria possível, tudo bem. O problema é que esse tal aparelho também pode servir como um tipo de máquina do tempo. Ok, denovo, cinema pra mim é liberdade, mas o que não pode acontecer é um filme querer fazer o espectador de burro, e é exatamente isso que Deja Vu faz. É inegavel que ele se inspirou pelo menos um pouco em Minority Report, mas ele não passa de um primo pobre do filme de Spielberg.

Pelo menos não temos aqui cenas de ação gratuitas, o filme é mais focado na história, pena que é uma história que não empolga, que parece ser original, mas na verdade não é. É, sim, uma mistura de certos elementos de filmes muito melhores.

Quando se trata da parte técnica, como eu já disse no ínicio, Tony Scott quase sempre se sai bem e aqui não foi diferente. Mas num aspecto mais humano da coisa, no caso, as atuações, não há nenhum destaque. Não que os atores estejam ruins, mas é que o roteiro não da oportunidade pra que ninguém se sobressaia.

Se o filme deixasse de lado a baboseira pseudo-cientifica e centrasse mais a história nas investigações normais, desenvolvendo melhor os motivos que levaram o terrorista a cometer o crime e se importando mais com o sofrimento da comunidade de New Orleans poderiamos ter algo significativamente melhor.

Nota: 51



Blade Runner,
1982
Ridley Scott

Há uns 5 anos quando se falava em Blade Runner sempre me vinha a cabeça algo como: "Uma das melhores ficções de todos os tempos" ou "Um dos grandes filmes do cinema". Eis então que decidi assisti-lo e acabei me decepcionando muito naquela época. Pra mim não passava de um filme com belos cenários-feios, porém um tanto quanto chato. Agora, com 20 anos, vi novamente. Minha impressão foi MUITO melhor, mas de qualquer forma, não posso deixar de acha-lo superestimado.

Pois bem, muitos consideram Blade Runner um filme-noir, e ele de fato tem elementos que o fazem pertencer, pelo menos um pouco, a este estilo. Se não, vejamos: O noir é mais um estilo visual e narrativo do que um gênero propriamente dito. Fortemente influenciados pelo expressionismo alemão, os filmes noir geralmente apresentam nas suas tramas investigações policias, assassinatos, personagens femininos importantes, tudo isso ambientado em cidades caóticas, sujas e escuras e carregados com certo niilismo(filosofia que prega que não há sentido para a vida). Blade Runner realmente tem muito disso.

Num primeiro momento o que chama mais a atenção no filme é, sem dúvida, o aspecto visual. Ridley Scott cria uma Los Angeles futuristica - o ano é 2019 -, densamente povoada, suja, com carros voadores, muitas luzes, propagandas... É nesse cenário desordenadamente belo que residem os Replicantes - criações humanas que têm a tarefa de colonizar planetas perigosos, mas que através de um motim se tornaram livres, o que os transforma em alvos dos Caçadores de Androides, cujos objetivo é eliminar qualquer um Replicante que esteja na Terra-.
A tarefa para ir atrás desses Replicantes-fugitivos que estão na Terra cabe a Deckard, considerado o melhor caçador de andróides em atividade. O que poderia se transformar num filme de ação, cheio de perseguições, com a luta cliche entre o bem e o mal, acaba ganhando mais profundidade do que o esperado. O filme é cheio de referencias religiosas e faz um verdadeiro estudo sobre o que a vida representa. No final das contas acabamos nos importando mais com o "vilão" do que com o "mocinho", já que este é muito mal desenvolvido e Harrison Ford não demostrou carisma suficiente.

De qualquer forma, toda a atmosfera tech-noir do filme me conquistou, talvez eu o veja novamente um dia desses, assim quem sabe eu consiga captar mais coisas e aumentar a sua nota.

Nota: 81