6.2.08

m

* M, 1931
Fritz Lang

Já assisti a vários clássicos e na maioria das vezes essa experiência acaba sendo frustrante. Quer dizer, frustrante é uma palavra forte, o que acontece é que eu vou com uma expectativa muito grande e acabo me decepcionando. Algo bem corriqueiro na nossa vida, náo é? Não só em termos de cinema. Geralmente os filmes clássicos sofrem dos mesmos problemas, como o excesso de closes, poucas tomadas em plano aberto, rarrisimas inovações de fotografia, além de vários clichês e de roteiros um tanto formulaicos. Claro que nem sempre é assim, existem os clássicos que realmente devem ser valorizados, são vários os exemplos e um deles é M, do austriaco Fritz Lang.

Gostei da maior parte do filme, mas não o suficiente para cultua-lo, para coloca-lo na minha lista dos filmes preferidos ou algo assim. Mas é um filme digno de nota e que merece algumas reflexões a respeito do assunto que ele apresenta e desenvolve.

Esse M do titulo vem da palavrar MORDER, que significa assassino em alemão. Aqui temos um serial-killer cujas vítimas são crianças e ele é como um fantasma. Ninguém vê, até que faça uma próxima vítima. É interessante a forma como Fritz Lang nos mostra todo o caos que atinge a cidade quando todos se dão conta do perigo que está a espreita. Os cidadãos ficam em pânico ao imaginar que suas crianças estão a mercê de um asassino cruel e isso gera vários problemas. Qualquer homem andando com uma criança é digno de suspeitas. Há uma atmosfera de medo que foi muito bem captada pelo diretor.

Somos apresentados a uma garotinha e logo ela tem o seu encontro com M. Fritz Lang nos informa que a garota não voltará mais, não mostrando uma violência grafica sim com uma sutileza quase poética, quando nos coloca na casa da garota e vemos sua mãe preocupado com o seu atraso e o seu lugar vazio à mesa, juntamente com os pratos e talheres que jamais serão usados novamente. Outra forma interessante de dizer que a personagem não iria mais voltar é quando podemos observar o balão que ela carregava preso num poste de luz, abandonado, sem rumo. É de arrepiar.

O ator Peter Lorre, que faz o serial-killer, obviamente tem qualidade, mas acredito que ele errou a mão, principalmente no monolo final. Ele foi caricatural demais, achando que esbugalhar os olhos e falar estridentemente fosse suficiente para causar impacto. Para mim não funcionou.

O filme lança uma discussão inteligente quando M diz que ele mata as crianças por um tipo de impulso e não porque ele realmente quisesse fazer o que faz. Eu sei que mulheres quando estão em TPM, com um nivel hormonal muito desrregulado, acabam sendo inocentadas de certos crimes. Mas no caso do filme é dificil julga-lo. Como vamos saber se ele está falando a verdade? E se estiver, como ficam os pais das crianças mortas ao saber que o assassino logo estará nas ruas novamente, caso seja alegado um tipo de loucura momentânena? Não como a lei cuida desse tipo de caso hoje em dia, mas é algo bem delicado.

Ah, sim, Fritz Lang realizou uma obra atemporal, principalmente em se tratando do estilo de filma-la. Ele é ousado na maioria das cenas, utilizando ângulos que me impressionaram bastante, justamente por "M" ser tão antigo. A maneira como a narrativa segue pode parecer confusa, pois são muitos personagens, mas nada que atrapalhe. Fritz Lang realmente estava a frente do seu tempo, esse filme é uma das provas.


Nota: 74