31.1.08

a mighty heart

* O Preço da Coragem, 2007
Michael Winterbottom

Muitas vezes vemos notícias trágicas em jornais e acabamos não pensando muito sobre o assunto. Lemos que um jovem foi assassinado num crime relacionado ao tráfico. Ás vezes pensamos: Nossa, que triste. Mas aí já vamos para a parte de esportes e esquecemos. Quantas vezes já não lemos sobre atentados terroristas no oriente-médio? Será que de tantas notícias desse tipo a violência não acabou se banalizando um pouco na nossa mente? Convivemos com tantas injustiças que passamos a não nos importar muito com coisas que acontecem aos outros, com raras exceções. O que o diretor Michael Winterbottom faz em O Preço da Coragem é nos colocar dentro de uma manchete -neste caso, Reporter americano é degolado- e nos chocar e deprimir com o seu conteúdo.

Esse filme mostra os acontecimentos relacionados a morte do jornalista americano Daniel Pearl, enquanto fazia uma matéria no Paquistão, poucos meses após o atentado do 11 de setembro. Eu me lembro de ter lido sobre um jornalista assassinado no Paquistão, mas lembro de não ter ficado muito comovido na época. Depois de ver o filme fiquei com vontade de levar flores para o caixão de Danny e de mostrar toda a minha admiração para com a viuva que ele deixou, Marianne. Michael Winterbottom foi extremamente competente em mostrar todo esse episódio de uma forma quase que documental(basicamente da mesma maneira que fez com o ótimo Caminho para Guantanamo), o que contribuiu para a urgência da situação, que a cada instante parecia mais impossível de ser resolvida, apesar de fiapos de esperança que brotavam após as primeiras comunicações dos sequestradores.

Há uma cena interessante, em que observamos as reações das pessoas vendo a fita do assassinato de Daniel, mas não vemos o video em si. Werner Herzog utilizou da mesma técnica em seu filme O Homem Urso. Escolha acertada de ambos. Já que seria no minimo desrespeitoso mostrar as tais cenas. Também devo mencionar um interrogatório feito com um dos organizadores do sequestro, que disse que Daniel foi morto pelo simples fato de ser americano. Eis que o agente da CID pergunta: Que muçulmano você acha que é? É só um lembrete para aqueles que gostam de generalizar e chamar todos os muçulmanos de terroristas.

Finalizando, é um filme dificil que realmente me abalou, tanto pela morte de Daniel e como forma que certos jornalistas trataram essa barbárie, tentando polemizar e arrancar frases sensacionalistas dos envolvidos, como na entrevista que Marianne concedeu a um jornalista mais preocupado em ganhar alguma publicidade do que fazer seu trabalho de uma forma honrada e honesta. Marianne demonstrou sobriedade, dignidade e altruismo, calando de maneira exemplar o "jornalista" e me fazendo ter a certeza que esse título em inglês deve ser relacionado a ela... mighty heart, de fato.