20.1.08

saneamento básico

* Saneamento Básico, 2007
Jorge Furtado

Jorge Furtado é um cara que admiro. Tanto pelo seus roteiros, como pela forma eficiente que ele dirige seus filmes. Confesso que me decepcionei um pouco com seu penúltimo trabalho, Meu Tio Matou Um Cara, mas agora, com Saneamento Básico ele recuperou o prestígio.

Antes mesmo de o filme começar ouvimos a voz de Fernanda Torres falando com o público, dizendo que ainda existem cadeiras vagas e falando alguma coisa sobre um casal de namorados. É uma cena que deve garantir risadas num cinema, mas será que não é um tipo de brincadeira com o fato de filmes nacionais não terem tanta repercussão na bilheteria? Quando um filme nacional não tem tanto marketing geralmente a sala fica vazia com um ou outro casal de namorado perdido, mais interessados um no outro do que está se passando na tela.

Numa cidade do interior do rio grande do sul, a comunidade se une para reinvidicar uma grana para a construção de uma fossa num arroio, para tentar diminuir o mal cheiro que provem do local. Eles não conseguem o dinheiro, mas o que eles podem tentar é participar de um projeto que irá dar ao vencedor 10 mil reais. O projeto é criar um filme de ficção.

E é isso. Mais um filme cuja a história é "um filme dentro do filme". Mas creio que aqui ela é trabalhada de uma forma mais original de que a maioria, garantindo vários momentos de diversão.

As 4 pessoas que decidem levar esse projeto para frente não entendem basicamente nada de cinema. A começar pela construção do roteiro. O filme nos mostra a dificuldade que pessoas inexperientes tem para escrever um roteiro, pelo simples desencontro com o tipo de linguagem, afinal, escrever um roteiro não é o mesmo que escrever um romance. Enquanto um personagem escreve no roteiro algo como: "Silene sente o aroma das flores", outro reflete sobre isso, como que vamos filmar alguém sentindo um aroma? Ou também, como filmar o pensamento de outro personagem?

Existe espaço também para leves criticas à forma que são feito os filmes, como quando um personagem reclama que o seu nome aparece apenas como colaborador, e não como o roteirista, e este recebe como resposta: Pô, você não fez nada, só inventou a história.
Outra interessante é quando é dito que eles não precisariam sair do interior e ir para Porto Alegre para fazer sucesso.

O que fica para mim, além das risadas proporcionadas pela falta de experiencia dos cineastas-wannabe, que têm várias duvidas na hora de escrever o roteiro e não sabem atuar com o minimo de veracidade, é uma certa ingenuidade encantadora dos 4 personagens, que não medem esforços e não se abatem quando as coisas dão errado, claro que eles estão impulsionados pelo dinheiro que será entregue ao vencedor do projeto, mas chega um momento que percebemos que eles de fato se apaioxonaram pelo o que estavam fazendo, e fica um tipo de mensagem aos cineastas independentes que tem por ai: não desistam, se o "O Monstro do Fosso" pode virar filme, pq não a sua idéia?